ARTIGOS
Consolidação do Cooperativismo
Celebra-se no primeiro sábado do mês de julho - neste ano, no dia 2 - o Dia Mundial do Cooperativismo. Em meio às comemorações e reflexões sobre o sistema que se multiplicam no momento, abre-se uma importante questão: qual o grande desafio a enfrentar neste período? A resposta é, ao mesmo tempo, simples e complexa. Desenvolvê-lo como um negócio sustentável deve ser a grande meta desta geração de cooperados que trabalha em épocas tão áridas. Consolidar o sistema cooperativista em nosso país como um imprescindível participante na produção da riqueza nacional é o objetivo maior. Antes, porém, é necessário definir se o modelo faz-se enxergar como atividade econômica de terceiro setor ou como um conglomerado de empreendedores.
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Como atividade econômica de terceiro setor, temos a capacidade de geração de riqueza, de forma a contrariar alguns dos princípios básicos da administração moderna, quando a mesma estabelece prazos médios para retorno de investimentos nas empresas mercantis. Como conglomerado de empreendedores, podemos subverter a história dos departamentos de recursos humanos das empresas, fadando-os ao ocaso.
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Temos um potencial estático que beira à atividade nuclear. Tal qual a bomba, a explosão do sistema libera tanta energia que, se não houver controle, “passa do ponto” e acaba por deixar resultados nefastos. E temos visto inúmeras dessas “bombas” explodindo e levando pelos ares os ideais e os esforços de milhares de profissionais. Algumas explodem porque foram programadas para explodir. Outras, porque são mal manuseadas. Outras, ainda, porque a explosão interessa a alguns corporativistas de plantão, ávidos pelo maior dano possível. Entretanto, se essa energia for direcionada para impulsionar um motor de produtividade, estaremos diante de uma máquina de geração de riquezas comparável a qualquer grande empreendimento econômico ou financeiro de primeiro mundo.
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Somos uma megaempresa, criada num microcosmo. Alterar-se de micro para macro é uma questão de tempo. E de pouco tempo, se soubermos dirigir essa máquina pelos caminhos certos. Tudo o que existe no mundo dos negócios – extração, industrialização, produção, serviços, educação, movimentação de crédito, edificações etc. – pode ser feito de maneira cooperada. Neste sistema, as chances de sucesso e de rentabilidade são exponencialmente maiores do que em qualquer outro modelo de empreendimento econômico. Porém, não podemos nos iludir em relação às dificuldades enfrentadas.
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Como em qualquer outra forma de negócio, empreendimento ou sociedade onde se pressupõe a interferência do ser humano, o modelo cooperativista é passível de estranhezas e usura. Não é nem poderia ser diferente de outros tipos de sociedade. Assim, não carrega a prerrogativa de ser “corrompível e corruptível” de forma exclusiva. Todas as estruturas sociais o são. Não poderia haver ingenuidade nessa interpretação, sob o risco de se criar uma falaciosa relação com a verdade. Como o sistema é essencialmente baseado na participação humana e como é inexeqüível o controle absoluto de cada interesse em particular, temos que viabilizar uma educação sistemática de base, cuidando para que haja a possibilidade de estabelecer-se, no momento do nascimento de uma sociedade cooperativa, a idéia de coletividade e de individualidade compartilhada como regra de sucesso para o empreendimento.
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Como?
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Se a resposta fosse simples, o sistema cooperativo não carregaria essa característica diferencial que tanto o destaca do meio comum. Se temos essa capacidade de destaque, que a usemos de maneira a enriquecer a estrutura produtiva de nosso país, de forma inteligente, na solidificação de nosso ideal econômico de domínio de uma fatia expressiva do mercado que nos é destinada pela história.
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Estamos empenhados na conquista dessa fronteira. Haja vista o que o cooperativismo enfrentou até aqui. Hoje, nada nos amedronta mais do que a idéia de ficarmos inertes e suscetíveis aos interesses corporativos de quem não quer ver o esplendor econômico do sistema.
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Fonte: Daniel Augusto Maddalena, consultor especializado em cooperativismo - artigo publicado no Jornal do Comércio, 5 de julho de 2005.